Facção faz 'censo' e mapeia membros
Atrás de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul têm maior contingente de criminosos; PCC monta bases até na Bolívia e no Paraguai
11 de outubro de 2013 | 2h 00
Marcelo Godoy - O Estado de S.Paulo
Com base nos documentos apreendidos com a facção criminosa durante os três
anos e meio de investigação, o Ministério Público Estadual (MPE) montou o
organograma da facção e obteve o "censo" do Primeiro Comando da Capital (PCC),
feito pelo setor da organização denominado Sintonia Geral dos Outros
Estados.
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Por meio do censo foi possível verificar que os dois Estados, além de São
Paulo, onde a facção tem o maior número de adeptos são Paraná e Mato Grosso do
Sul. No primeiro, o PCC tem 626 integrantes, dos quais 545 estão detidos -
destes, 20 são originários de São Paulo.
A forte presença da facção no Paraná tem dois motivos principais. O primeiro
é histórico. Nos anos 1990, seis integrantes da cúpula da facção, entre eles
José Márcio Felício, o Geleião, um de seus fundadores, foram enviados pela
Administração Penitenciária de São Paulo para o Estado vizinho em uma tentativa
de desarticular o bando.
Em vez disso, os criminosos fundaram ali o Primeiro Comando do Paraná (PCP) e
passaram a dominar o sistema prisional do Estado, liderando rebeliões e fugas.
Além do enraizamento nas cadeias, o outro motivo para a forte presença da facção
é o fato de o Estado servir de rota para o tráfico de drogas.
Logo ao lado, no Paraguai, está baseado um dos maiores fornecedores de
cocaína para a organização: trata-se de Carlos Antonio Caballero, o Capilo. Foi
com Capilo em 2008 que o PCC firmou seu primeiro acordo com um traficante
internacional. O diário de Wagner Roberto Raposo Olzon, o Fusca, foi apreendido
naquele ano pela Polícia Federal e revelou os detalhes do acerto para o envio de
drogas do Paraguai e da Bolívia para a facção paulista.
Em 25 de maio de 2010, no começo da investigação - arquitetada pelo então
secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto -, o acusado Samuel
Augustino Roque, o Tio Pec, recebeu um telefonema no qual lhe foi passada uma
ordem da Sintonia Final Geral do PCC, a cúpula da facção. O "salve" dizia que a
facção não devia se preocupar apenas em dominar o crime organizado na faixa de
fronteira do Paraguai, mas todo o país por meio do "fortalecimento do PCC, da
conscientização de companheiros e outros criminosos".
Depois de São Paulo e Paraná, o Estado que concentra a maior quantidade de
membros da facção é o Mato Grosso do Sul. Ali o bando mantém 558 integrantes,
dos quais 469 estão em penitenciárias e 89 são foragidos. O Estado ocupa essa
posição na geografia do PCC em razão de sua importância como rota de passagem da
droga que vem do Paraguai e da Bolívia para o Estado de São Paulo.
Dominando o Estado, o PCC consegue tornar o território em uma área hostil
para as facções rivais paulistas ou para outros grupos organizados que tentem
desafiar seu poder. Esse seria o caso de bandos como o Comando Revolucionário
Brasileiro da Criminalidade (CRBC).
Estrutura. As interceptações telefônicas reuniram milhares
de áudios nos quais os integrantes da Sintonia Final Geral do PCC negociam a
compra de fuzis, pistolas e drogas para a facção. Em um telefonema, por exemplo,
flagrado em 17 de outubro de 2010, Roberto Soriano, o Tiriça, conversa com Tio
Pec e faz as contas: só em sua reserva de armas a facção tinha naquele dia 55
fuzis, 3 metralhadoras calibre .30, 100 pistolas e 15 carabinas. No fim do ano,
a facção teria alçado a marca de uma centena de fuzis - a meta era atingir um
total de mil fuzis e usar o Rio como território para treinamento de tiro.
Para evitar a ação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a cúpula do
PCC decidiu descentralizar o paiol do grupo. Cada seção da facção devia manter
cinco fuzis e uma quantidade um pouco maior de pistolas. Também devia ter em
cada região uma casa com um "mineral" enterrado - a reserva de R$ 1 milhão usado
para compras de emergência do grupo.
Todas as decisões estratégicas da facção são tomadas pela Sintonia Final
Geral. Composta por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e outros sete
criminosos, os bandidos têm um grupo de suplentes. Trata-se do Apoio da Sintonia
Final Geral, formado por nove bandidos, entre eles o sequestrador Paulo Cézar
Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina.
Foi Neblina quem substituiu Tiriça, o único integrante da Sintonia Final
Geral que não está detido na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
Tiriça foi mandado em novembro de 2012 para a Penitenciária Federal de Porto
Velho, em Rondônia, depois de ter sido flagrado ordenando ataques a policiais
militares no Estado de São Paulo. Os criminosos alegavam que os atentados eram
retaliações por causa de supostas execuções praticadas pela Rota contra
integrantes do PCC. Ao todo, 104 PMs foram assassinados em 2012.
Acessado e disponível na Internet em 11/10/2013 no endereço -