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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Soldado da PM é preso suspeito de participar de chacina na Grande SP

24/08/2015 19h15 - Atualizado em 24/08/2015 22h32

Soldado da PM é preso suspeito de participar de chacina na Grande SP

Ao todo, 18 pessoas foram mortas em Osasco e Barueri.
Corregedoria afirma ter lista com nome de possíveis atiradores.

Do G1 São Paulo
Um soldado da Polícia Militar foi preso suspeito de participar da chacina que matou 18 pessoas em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, em 13 de agosto, informou o SPTV. O policial tem 30 anos, prestava serviços administrativos no prédio das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e foi detido no prédio da Corregedoria da corporação. O nome dele não foi divulgado.
A prisão administrativa foi decretada depois que a Corregedoria ouviu um sobrevivente da Rua Suzano, um dos locais onde aconteceram ataques em Osasco.
Segundo o depoimento, obtido com exclusividade pelo SPTV, "a testemunha narrou ter visto o rosto do seu agressor e, depois de observar fotografias apresentadas pelo DHPP, apontou, com clareza, o soldado como sendo autor de um dos disparos". O homem nega o crime e diz que estava com a namorada no horário da chacina.
Este é o primeiro suspeito preso. Ao todo, 54 policiais foram ouvidos, sendo que 18 são investigados: 11 soldados, dois cabos e cinco sargentos. Entre eles estão sete PMs de Osasco que chegaram ao mesmo tempo num bar da capital paulista depois de sair do serviço na noite da chacina.
A principal linha de investigação é que a sequência de assassinatos tenha sido uma vingança por duas mortes: a de um policial militar num posto de combustíveis, uma semana antes da chacina, e a morte de um guarda-civil de Barueri, dois dias antes dos crimes.
Outra testemunha narrou para a Corregedoria que ouviu de um conhecido, cuja identidade não foi revelada, o nome e o apelido do atirador canhoto que aparece nas imagens de blusa azul, dominando dez pessoas e atirando em duas delas. A Corregedoria já sabe que este atirador não é policial militar, mas pode ser o marido de uma soldado da PM que trabalha em um dos batalhões de Osasco.
Suspeito
O soldado preso também prestou depoimento. Ele estava afastado das ruas e contou à Corregedoria que já foi indiciado por cinco homicídios, além de ser suspeito de integrar um grupo de extermínio. O homem acrescentou, porém, que a Justiça o inocentou em dois casos.

Ele contou o que fazia na noite da chacina: "O declarante foi para a sua casa onde ficou até as 18h, depois saiu para buscar sua namorada no trabalho, e depois, foi levá-la para casa, lá chegando por volta das 18h30. Na residência de sua namorada, comeram pizza, e assistiram a um filme e ele dormiu".
O PM também disse “que recepcionou o motoboy que trouxe a pizza. Que não se recorda o nome da pizzaria, mas sabe que fica próxima à casa de sua namorada. [...] Por volta das 21h30, o declarante recebeu uma mensagem, via aplicativo de celular, dizendo que ocorriam diversos ataques em Osasco".
Declaração da OEA
Em uma declaração divulgada nesta sexta-feira (21), a Organização dos Estados Americanos (OEA) condena os assassinatos e "insta o Estado a que prossiga as investigações iniciadas, esclareça o ocorrido e identifique, processe e puna os responsáveis, bem como a que adote medidas para que esses fatos não se repitam".

A Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) reagiu à declaração e disse que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) cometeu "graves erros" ao citar o número de homicídios praticados por policiais. O governo alegou ainda que a falha mostra "desinformação" e "precipitação" por parte da OEA.

"Importante, porém, salientar os claros e graves erros do restante da nota da CIDH, tanto no tocante ao número de homicídios praticado por policiais, quanto no percentual de investigações e análises pela Justiça. Infelizmente, essa falha da CIDH mostra total desinformação derivada de precipitação, ao se basear somente em matérias jornalísticas e não em dados que poderia facilmente ter obtido junto aos Poderes Executivo e Judiciário", disse o governo paulista em nota oficial enviada na manhã deste sábado (22).
Na declaração, a OEA usou dados sobre mortes em "massacres em São Paulo" e afirmou que os números indicam aumento em relação ao ano passado. A comissão também exigiu que o Brasil esclareça o ocorrido, identifique e puna os responsáveis pelos ataques em série.
Já em nota oficial, o governo também defendeu que a manifestação da CIDH é idêntica ao posicionamento imediato da SSP no sentido da investigação e esclarecimento dos ataques em série, e citou a criação de uma "força-tarefa" com policiais civis, peritos criminais e médicos legistas. A pasta também ressaltou que índice de homicídios é o aceitável pelas organizações internacionais, sendo 9,38 por 100 mil habitantes.
Questionado em coletiva de imprensa em São José do Rio Preto (SP) neste sábado sobre a declaração da OEA, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse apenas que todos os policiais estão empenhados na apuração, identificação e prisão dos criminosos, e não comentou a respeito da exigência. "As investigações estão adiantadas, mas não quero antecipar  nada porque pode prejudicar o trabalho policial. Por isso, vamos deixar apenas a Secretaria de Segurança Pública do estado falar sobre o caso."
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Zilda Maria de Paula, mãe de uma das vítimas da chacina, organizou o ato ecumênico para lembrar uma semana da série de ataques em Osasco e Barueri (Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo)Zilda Maria de Paula, mãe de uma das vítimas da chacina, organizou o ato ecumênico para lembrar uma semana da série de ataques em Osasco e Barueri (Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo)
Ataques em série
No dia 13 de agosto de 2015, 18 pessoas foram mortas e seis ficaram feridas em ataques realizados por indivíduos armados em 10 lugares próximos, em um espaço de tempo de ao menos três horas, nas cidades de Barueri e Osasco, ambas na Grande São Paulo.

De acordo com alguns testemunhos e gravações de câmeras de segurança, um grupo de pessoas armadas usaram veículos para se locomover entre os lugares, perguntaram sobre antecedentes criminais e atiraram. Segundo as autoridades, um mesmo veículo teria sido visto em vários dos lugares onde ocorreram os crimes.
No comunicado, a CIDH informou que uma das linhas de investigação é "o possível envolvimento de membros da Polícia Militar (PM), no que teria sido uma suposta represália pelo assassinato de um policial dias antes".
Segundo dados oficiais usados pela comissão, 56 pessoas foram mortas em massacres em São Paulo em 2015. Os dados entregues pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-SP) ao Instituto Sou da Paz por meio de uma solicitação de acesso à informação indicam que isso representa um aumento em relação ao ano anterior, quando foram registradas 49 mortes em massacres em todo o ano.
A Comissão disse "tomar nota" das declarações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que classificou os incidentes como "gravíssimos" e disse que as autoridades tentarão esclarecer "o mais rápido possível".
Além disso, tomou nota das declarações públicas do secretário de segurança pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, que assinalou que este foi "o pior massacre deste ano" no estado, e anunciou que as autoridades atuarão "rapidamente para capturar todos" que forem responsabilizados.
A CIDH exigiu a continuidade das investigações iniciadas de maneira "pronta, objetiva e imparcial", e que sejam seguidas "todas as linhas lógicas de investigação", incluindo a hipótese de que os possíveis autores possam ser oficiais de forças de segurança do estado.
A investigação "deve esclarecer as causas que conduziram a estes graves casos de violência, identificar, processar e punir os autores e satisfazer as expectativas de justiça das vítimas e seus parentes".
O estado deve, segundo a CIDH, adotar todas as medidas legais, institucionais e administrativas que forem necessárias para garantir que casos como esses não se repitam.
Profissão Repórter mostrou que depois do assassinato do policial, na madrugada seguinte, num espaço de cinco horas, houve cinco mortes na cidade e mais uma no dia seguinte.
Manifestantes protestam contra a morte de 18 pessoas em Osasco e Barueri (Foto: Carolina Dantas/G1)Manifestantes protestam contra a morte de 18 pessoas em Osasco e Barueri (Foto: Carolina Dantas/G1)
Mortes em osasco V5 (Foto: Editoria de Arte/G1)
tópicos:
  • Barueri
  • Osasco
  • São Paulo
  • Acessado e disponível na Internet em 25/08/2015 no endereço -
  • http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/08/soldado-da-pm-e-preso-suspeito-de-participar-de-chacina-na-grande-sp.html

sábado, 22 de agosto de 2015

Chacina em Osasco e Barueri: veja o que se sabe e o que falta esclarecer

Chacina em Osasco e Barueri: veja o que se sabe e o que falta esclarecer

 

Com 18 mortos, maior chacina do ano completa uma semana nesta quinta. Envolvimento de policiais e guardas-civis no crime ainda é investigado.

Corpo em calçada após ataques em Osasco (Foto: Edison Temoteo/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Uma semana após o assassinato de 18 pessoas em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, a polícia já sabe que os crimes foram cometidos por três grupos formados por pelo menos 10 pessoas. A participação de policiais militares e guardas-civis é investigada e nenhuma pessoa havia sido presa até esta quinta-feira (20).
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) recrutou equipes de investigação dos municípios em que ocorreram os crimes, e também da capital paulista, para tentar chegar aos autores de uma das maiores chacinas da história de São Paulo. Nesta terça-feira (18), a Corregedoria da Polícia Militar convocou 32 policiais que trabalhavam na noite em que ocorreu o crime.
O QUE SE SABE:
– Três grupos diferentes, com pelo menos 10 indivíduos armados e encapuzados, atiraram em moradores de 10 pontos de Osasco e Barueri;
– O primeiro grupo, que atacou em Osasco, tinha quatro pessoas e estava em um Peugeot da cor prata;
– O segundo grupo, que também atuou em Osasco, atuava em duas pessoas e estava em uma motocicleta;
– Já o terceiro grupo, em um carro preto, atirou em moradores de Barueri;
– Foram utilizadas armas dos calibres: 9 mm (de uso das Forças Armadas), 38 e 380 (de uso de guardas-civis), e 45 – que não é usada pela PM, mas existe na Polícia Civil, embora esteja em desuso.
– Em pelo menos um dos ataques, as vítimas foram enfileiradas, os criminosos perguntavam se tinham antecedentes criminais e, depois, atiravam.
O QUE FALTA SABER:
– Quem matou? A polícia ainda não confirmou quem são os autores dos crimes;
– Quais os motivos do crime?
– Ainda é investigado se houve envolvimento de policiais e guardas-civis nos crimes;
– Não é confirmada a relação entre os eventos que ocorreram entre Osasco e Barueri, apesar de muitos indícios;
– Há relação com outras mortes na região? Há suspeitas de a chacina ter relação com mortes de um policial e um guarda civil dias. Outras seis pessoas foram mortas em Osasco nos dias que antecedram a chacina;
– A Secretaria da Segurança Pública ainda não descartou o envolvimento do crime organizado nos ataques.
Veja mais detalhes sobre o caso:
Que horas e onde foram os ataques?
Os ataques iniciaram por 20h30, quando dez pessoas foram baleadas na Rua Antonio Benedito de Ferreira, em Osasco. Destas vítimas, oito morreram e duas ficaram feridas. O último ataque ocorreu por volta das 23h10 na Rua Irene, em Barueri.
 (veja o infográfico abaixo para ver todos os locais dos crimes)
Quantas pessoas foram assassinadas?
Foram mortas 18 pessoas. No início, a contagem apontava 19 mortos contando com um assassinato que ocorreu no mesmo período em Itapevi, localizado na mesma região. Ao longo da investigação, a polícia descartou que o fato tivesse relação com a chacina.
Há alguma relação entre as vítimas?
Não há um ponto forte em comum entre as vítimas – elas têm entre 16 e 41 anos e empregos diversos. Seis dos 18 mortos tinham passagem pela polícia. Foram 15 mortes em Osasco e três em Barueri.
Há suspeita de que policiais ou guardas-civis tenham cometido os crimes?
É a principal hipótese apontada pela Secretaria da Segurança Pública, mas ainda não há uma confirmação. A suspeita foi levantada já que, no mês de agosto, o guarda-civil Jefferson Rodrigues da Silva, de 40 anos, e o policial militar Avenilson Pereira de Oliveira, de 42 anos, foram assassinados na região.
O cabo Oliveira foi morto a tiros, no dia 7, por dois criminosos ao reagir a assalto a um posto de combustíveis. Ele era da Força-Tática do 42º Batalhão da PM (BPM), responsável pela segurança na região, mas estava sem farda. A dupla usou a própria arma do policial para matá-lo e fugiu. O DHPP já identificou os suspeitos, que são procurados pela Justiça.
O guarda Jefferson Silva foi baleado e assassinado em 12 de agosto por três assaltantes que tentaram roubá-lo. Ele também estaria à paisana. Os criminosos fugiram. Na noite seguinte ao assassinato do guarda, começaram as ondas de execuções em Osasco e Barueri.
 
A Corregedoria da Polícia Militar interrogou 32 policiais militares que trabalhavam em Osasco e Barueri na noite de quinta-feira (13) e diz que eles são testemunhas.
Marcas de chacina em Osasco estão por várias partes da cidade (Foto: Clayton Souza/Estadão Conteúdo)Marcas de chacina em Osasco estão por várias partes da cidade (Foto: Clayton Souza/Estadão Conteúdo)
Há suspeita de participação do crime organizado?
Essa hipótese ainda não foi descartada já que, nas cenas dos crimes, foram encontrados projéteis que são pouco usados pela corporações policiais. Outro ponto apontado pelo Secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, é que os criminosos estariam tentando parecer policiais para despistar suas reais identidades.
Quais as principais pistas da polícia?
As imagens das câmeras de segurança dos locais dos crimes, que mostram os homens encapuzados, as cores e tipos dos veículos e o momento em que ocorreram os crimes. A polícia também interrogou os sobreviventes da chacina.
Cápsulas de quatro diferentes calibres de armas foram encontradas perto dos corpos das vítimas. Nota da secretaria confirmou que peritos do Instituto de Criminalística (IC) identificaram munição de armas 9 mm (de uso das Forças Armadas), 38 e 380 (de uso de guardas-civis), e 45 – que não é usada pela PM, mas existe na Polícia Civil, embora esteja em desuso.
Mensagens de áudio disseminadas pelo Whatsapp no momento e após os crimes também são analisadas pelos investigadores. Na manhã de segunda-feira (17), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, informou que o governo vai oferecer R$ 50 mil a quem repassar informações que esclareçam a série de ataques. Possíveis novas provas devem ser encaminhadas pelo site webdenuncia.org.br.
Quem está trabalhando na força-tarefa para elucidar o crime?
A equipe montada pela secretaria possui 50 policiais civis, sendo 30 do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo(Demacro) e 20 do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). São 12 peritos e 8 médicos legistas.
O Ministério Público (MP) acompanha as investigações. Além dos promotores Marco Antonio de Souza e Helena Bonilha, de Osasco, e Vitor Petri, de Barueri, acompanharão a investigação sobre os crimes o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e o Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gecep).
A Corregedoria da Polícia Militar também está envolvida na investigação, já que há possibilidade de envolvimento de agentes nos crimes.
Como está a rotina da região?
Desde os ataques, os comerciantes que trabalham próximo aos locais dos crimes têm fechado as portas mais cedo. Moradores também relataram que as pessoas têm evitado circular pelas ruas. Foram colocadas flores em frente ao bar onde balearam 10 pessoas.
Cartazes fixados na parede pedem respostas sobre os crimes, punição aos responsáveis e justiça. Eles também dizem não confiar na polícia. Para tentar garantir a segurança da população, as cidades receberam o reforço de 83 policias militares e 43 viaturas.
Quantas chacinas ocorreram este ano?
Essa é a sexta chacina de 2015 na Região Metropolitana de São Paulo. Outras cinco foram registradas desde o início do ano e, destas, três foram elucidadas, segundo o Secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes.
Entre as chacinas anteriores estão a série de ataques no Jardim São Luís, na Zona Sul, em março, com dez mortes, e outro ataque no mesmo bairro, em junho, com mais seis mortes, e o ataque na sede da torcida organizada Pavilhão Nove, na Zona Norte, em abril, onde oito pessoas morreram.
Mortes em osasco V5 (Foto: Editoria de Arte/G1)
Do G1 São Paulo