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"Eu não recearia muito as más leis se elas fossem aplicadas por bons juízes. Não há texto de lei que não deixe campo à interpretação. A lei é morta. O magistrado vivo. É uma grande vantagem que ele tem sobre ela" - Anatole France

sábado, 22 de agosto de 2015

Chacina em Osasco e Barueri: veja o que se sabe e o que falta esclarecer

Chacina em Osasco e Barueri: veja o que se sabe e o que falta esclarecer

 

Com 18 mortos, maior chacina do ano completa uma semana nesta quinta. Envolvimento de policiais e guardas-civis no crime ainda é investigado.

Corpo em calçada após ataques em Osasco (Foto: Edison Temoteo/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Uma semana após o assassinato de 18 pessoas em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, a polícia já sabe que os crimes foram cometidos por três grupos formados por pelo menos 10 pessoas. A participação de policiais militares e guardas-civis é investigada e nenhuma pessoa havia sido presa até esta quinta-feira (20).
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) recrutou equipes de investigação dos municípios em que ocorreram os crimes, e também da capital paulista, para tentar chegar aos autores de uma das maiores chacinas da história de São Paulo. Nesta terça-feira (18), a Corregedoria da Polícia Militar convocou 32 policiais que trabalhavam na noite em que ocorreu o crime.
O QUE SE SABE:
– Três grupos diferentes, com pelo menos 10 indivíduos armados e encapuzados, atiraram em moradores de 10 pontos de Osasco e Barueri;
– O primeiro grupo, que atacou em Osasco, tinha quatro pessoas e estava em um Peugeot da cor prata;
– O segundo grupo, que também atuou em Osasco, atuava em duas pessoas e estava em uma motocicleta;
– Já o terceiro grupo, em um carro preto, atirou em moradores de Barueri;
– Foram utilizadas armas dos calibres: 9 mm (de uso das Forças Armadas), 38 e 380 (de uso de guardas-civis), e 45 – que não é usada pela PM, mas existe na Polícia Civil, embora esteja em desuso.
– Em pelo menos um dos ataques, as vítimas foram enfileiradas, os criminosos perguntavam se tinham antecedentes criminais e, depois, atiravam.
O QUE FALTA SABER:
– Quem matou? A polícia ainda não confirmou quem são os autores dos crimes;
– Quais os motivos do crime?
– Ainda é investigado se houve envolvimento de policiais e guardas-civis nos crimes;
– Não é confirmada a relação entre os eventos que ocorreram entre Osasco e Barueri, apesar de muitos indícios;
– Há relação com outras mortes na região? Há suspeitas de a chacina ter relação com mortes de um policial e um guarda civil dias. Outras seis pessoas foram mortas em Osasco nos dias que antecedram a chacina;
– A Secretaria da Segurança Pública ainda não descartou o envolvimento do crime organizado nos ataques.
Veja mais detalhes sobre o caso:
Que horas e onde foram os ataques?
Os ataques iniciaram por 20h30, quando dez pessoas foram baleadas na Rua Antonio Benedito de Ferreira, em Osasco. Destas vítimas, oito morreram e duas ficaram feridas. O último ataque ocorreu por volta das 23h10 na Rua Irene, em Barueri.
 (veja o infográfico abaixo para ver todos os locais dos crimes)
Quantas pessoas foram assassinadas?
Foram mortas 18 pessoas. No início, a contagem apontava 19 mortos contando com um assassinato que ocorreu no mesmo período em Itapevi, localizado na mesma região. Ao longo da investigação, a polícia descartou que o fato tivesse relação com a chacina.
Há alguma relação entre as vítimas?
Não há um ponto forte em comum entre as vítimas – elas têm entre 16 e 41 anos e empregos diversos. Seis dos 18 mortos tinham passagem pela polícia. Foram 15 mortes em Osasco e três em Barueri.
Há suspeita de que policiais ou guardas-civis tenham cometido os crimes?
É a principal hipótese apontada pela Secretaria da Segurança Pública, mas ainda não há uma confirmação. A suspeita foi levantada já que, no mês de agosto, o guarda-civil Jefferson Rodrigues da Silva, de 40 anos, e o policial militar Avenilson Pereira de Oliveira, de 42 anos, foram assassinados na região.
O cabo Oliveira foi morto a tiros, no dia 7, por dois criminosos ao reagir a assalto a um posto de combustíveis. Ele era da Força-Tática do 42º Batalhão da PM (BPM), responsável pela segurança na região, mas estava sem farda. A dupla usou a própria arma do policial para matá-lo e fugiu. O DHPP já identificou os suspeitos, que são procurados pela Justiça.
O guarda Jefferson Silva foi baleado e assassinado em 12 de agosto por três assaltantes que tentaram roubá-lo. Ele também estaria à paisana. Os criminosos fugiram. Na noite seguinte ao assassinato do guarda, começaram as ondas de execuções em Osasco e Barueri.
 
A Corregedoria da Polícia Militar interrogou 32 policiais militares que trabalhavam em Osasco e Barueri na noite de quinta-feira (13) e diz que eles são testemunhas.
Marcas de chacina em Osasco estão por várias partes da cidade (Foto: Clayton Souza/Estadão Conteúdo)Marcas de chacina em Osasco estão por várias partes da cidade (Foto: Clayton Souza/Estadão Conteúdo)
Há suspeita de participação do crime organizado?
Essa hipótese ainda não foi descartada já que, nas cenas dos crimes, foram encontrados projéteis que são pouco usados pela corporações policiais. Outro ponto apontado pelo Secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, é que os criminosos estariam tentando parecer policiais para despistar suas reais identidades.
Quais as principais pistas da polícia?
As imagens das câmeras de segurança dos locais dos crimes, que mostram os homens encapuzados, as cores e tipos dos veículos e o momento em que ocorreram os crimes. A polícia também interrogou os sobreviventes da chacina.
Cápsulas de quatro diferentes calibres de armas foram encontradas perto dos corpos das vítimas. Nota da secretaria confirmou que peritos do Instituto de Criminalística (IC) identificaram munição de armas 9 mm (de uso das Forças Armadas), 38 e 380 (de uso de guardas-civis), e 45 – que não é usada pela PM, mas existe na Polícia Civil, embora esteja em desuso.
Mensagens de áudio disseminadas pelo Whatsapp no momento e após os crimes também são analisadas pelos investigadores. Na manhã de segunda-feira (17), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, informou que o governo vai oferecer R$ 50 mil a quem repassar informações que esclareçam a série de ataques. Possíveis novas provas devem ser encaminhadas pelo site webdenuncia.org.br.
Quem está trabalhando na força-tarefa para elucidar o crime?
A equipe montada pela secretaria possui 50 policiais civis, sendo 30 do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo(Demacro) e 20 do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). São 12 peritos e 8 médicos legistas.
O Ministério Público (MP) acompanha as investigações. Além dos promotores Marco Antonio de Souza e Helena Bonilha, de Osasco, e Vitor Petri, de Barueri, acompanharão a investigação sobre os crimes o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e o Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gecep).
A Corregedoria da Polícia Militar também está envolvida na investigação, já que há possibilidade de envolvimento de agentes nos crimes.
Como está a rotina da região?
Desde os ataques, os comerciantes que trabalham próximo aos locais dos crimes têm fechado as portas mais cedo. Moradores também relataram que as pessoas têm evitado circular pelas ruas. Foram colocadas flores em frente ao bar onde balearam 10 pessoas.
Cartazes fixados na parede pedem respostas sobre os crimes, punição aos responsáveis e justiça. Eles também dizem não confiar na polícia. Para tentar garantir a segurança da população, as cidades receberam o reforço de 83 policias militares e 43 viaturas.
Quantas chacinas ocorreram este ano?
Essa é a sexta chacina de 2015 na Região Metropolitana de São Paulo. Outras cinco foram registradas desde o início do ano e, destas, três foram elucidadas, segundo o Secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes.
Entre as chacinas anteriores estão a série de ataques no Jardim São Luís, na Zona Sul, em março, com dez mortes, e outro ataque no mesmo bairro, em junho, com mais seis mortes, e o ataque na sede da torcida organizada Pavilhão Nove, na Zona Norte, em abril, onde oito pessoas morreram.
Mortes em osasco V5 (Foto: Editoria de Arte/G1)
Do G1 São Paulo