Bombas de gás da PM viram material didático em aula de história no Rio
Hanrrikson de Andrade
Do UOL, no Rio
Do UOL, no Rio
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Hanrrikson de Andrade/UOLProfessor de história disse ter recolhido o material em apenas 15 minutos. O armamento não letal foi utilizado pela PM do Rio na manifestação dos professores grevistas, na última terça-feira (1º)
O professor Gibran Amorim Silva, 32, inovou em sua aula de história ao
utilizar bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, balas de
borracha, entre outros restos de armamentos não letais utilizados pela
PM (Polícia Militar) do Rio de Janeiro na manifestação da última
terça-feira (1º), no centro da capital fluminense.
O objetivo, segundo Silva, foi traçar um comparativo entre a ação da PM
na onda recente de protestos e a repressão durante o regime militar. O
educador afirmou ao UOL que o novo "material didático"
provocou perplexidade entre os estudantes do segundo ano do ensino médio
do Colégio Cenecista de Itaboraí, na região metropolitana do Estado.
De acordo com o professor, os jovens puderam "ir além" das cenas que
mostraram o violento embate no entorno da Câmara de Vereadores e na
avenida Rio Branco durante a votação do projeto de lei que definiu o novo plano de cargos e salários dos professores da rede municipal.
"Inicialmente, eu pensei que a reação deles seria mais tranquila. Mas o
sentimento comum foi de indignação. São jovens do segundo ano de um
colégio particular, de classe média, que tiveram contato físico com os
equipamentos utilizados para reprimir os professores", disse.
"Uma aluna chegou a se sentir tonta quando chegou perto da bomba de
gás", completou Silva, que também é professor da rede pública de
Itaboraí.
Segundo ele, uma aluna que disse ser filha de um policial militar fez
uma intervenção que chamou a atenção do professor. A adolescente afirmou
à classe que desejava apoiar a causa dos professores, porém tinha medo
de que o pai pudesse sofrer represálias por parte do Estado e do comando
da corporação.
O professor disse ainda que, dos 30 alunos presentes na aula, nenhum
pediu a palavra nem para apoiar a ação da Polícia Militar nem para
criticar o movimento dos professores, que iniciaram a greve no dia 8 de
agosto.
Silva declarou ter recolhido o material pós-confronto em apenas 15 minutos na praça da Cinelândia, centro do Rio.
'Pior do que na ditadura'
Na aula, o professor explicou aos alunos como as forças policiais agiam
para reprimir manifestações políticas contrárias ao regime militar, que
teve início com o Golpe de 1964, e disse ter sugerido aos jovens que
refletissem sobre eventuais semelhanças com a ação da Polícia Militar
nos episódios recentes de manifestações públicas.
Na avaliação do educador, a atual postura da força policial é "pior do
que na ditadura", uma vez que os "mecanismos de vigilância" não seriam
suficientes para evitar a violência.
"A forma de repressão hoje é muito pior. Mesmo com a imprensa e a mídia
internacional mostrando o que acontece nos protestos, toda a violência
praticada desde junho, mesmo assim eles [policiais] continuam fazendo as
mesmas coisas. Agredindo senhoras e estudantes", declarou.
Acessado e disponível na Internet em 08/10/2013 no endereço -
http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/10/04/bombas-da-pm-viram-material-didatico-em-aula-de-historia-no-rio.htm