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domingo, 18 de agosto de 2013

Em 8 anos, região de Bauru perde 201 policiais


16/08/13 05:00 - Polícia
Em 8 anos, região perde 201 policiais

Dados da SSP revelam que a Polícia Civil de Bauru e região teve redução de efetivo de 13,4% entre 2005 e 2013
Vitor Oshiro

Arquivo/JC

Marilda Pinheiro, da Adpesp: “O que está ocorrendo é a falência da Polícia Civil. O número de policiais diminui e a população só cresce”

Uma conta que não fecha. Enquanto a população cresce ano a ano, a Polícia Civil caminha em direção oposta. Dados da própria Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) mostram que Bauru e região perderam 201 policiais nos últimos oito anos. A diminuição do efetivo, que segue a tendência de todo o Estado (leia mais abaixo), atingiu todas as carreiras.

Por meio da Lei de Transparência e do Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão (E-Sic), as planilhas de recursos humanos da corporação foram cedidas pelo Departamento de Administração e Planejamento da SSP-SP ao blog Além do Fato (www.alemdofato.com.br).

O JC analisou os arquivos e encontrou números que expõem preocupante realidade da instituição que tem por objetivo investigar os crimes.

Os dados mostram que o Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior-4 (Deinter-4), responsável por Bauru e outros 88 municípios, teve uma redução no efetivo de 13,4% entre 2005 e 2013. O número de policiais caiu de 1.490 para 1.289.

E o “enxugamento” foi geral. No período, o número de delegados diminuiu de 196 para 180. Já o corpo de investigadores teve queda maior, indo de 439 profissionais para 397. Os escrivães foram de 366 para 326, enquanto a redução de carcereiros foi de 70 profissionais em oito anos. Os cargos de agentes e papiloscopistas também foram afetados.

“O que está ocorrendo é a falência da Polícia Civil. Nós temos um terço do efetivo daquele que tínhamos há 20 anos. O número de policiais diminui e a população só cresce”, critica a delegada presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp), Marilda Aparecida Pansonato Pinheiro.

A quantidade de habitantes da área abrangida pelo Deinter-4 realmente cresceu bastante. De acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, entre 2005 e 2013 a população cresceu em aproximadamente 105 mil pessoas.

“Não há efetivo para investigar todos os crimes. Quem pauta o que será investigado ou não é a repercussão de cada caso na mídia”, complementa a delegada.

O investigador e delegado sindical do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, Fábio Luís Legramandi, também reforça as críticas. “Temos uma polícia de faz de conta”.

Segundo ele, a saída de policiais é muito maior do que a reposição. “O investigador é aquele que vai procurar todas as evidências para esclarecer um caso. Além da diminuição do quadro, hoje, temos muitos investigadores que viraram ‘batedores’ de boletins de ocorrência”.

Arquivo/João Rosan

O diretor do Deinter-4, Benedito Valencise, afirmou que está bem equipado de recursos materiais para uma investigação rápida e precisa

Outra ótica


Apesar dos números e críticas, a SSP nega que a queda no efetivo prejudique as investigações. Por meio de nota emitida pela assessoria de comunicação, o diretor do Deinter-4, Benedito Antônio Valencise, informou que “o trabalho policial mostra a redução dos índices de criminalidade e o aumento da produtividade policial”.

Além de argumentar que “não há falta de delegados na cidade de Bauru”, ele ainda ressalta que o auxílio da tecnologia, de instrumentos de inteligência e de recursos materiais faz com que as “investigações prossigam sem limitação”.

“O delegado deixou claro que está muito bem equipado de recursos materiais que auxiliam em uma investigação rápida, ágil e precisa”, complementa, em nota.

Em relação à reposição dos quadros de recursos humanos, a SSP apontou que, em 2012, tomaram posse 134 delegados, 289 agentes de telecomunicações, 568 investigadores e 245 escrivães no Estado. As regiões específicas das contratações não foram indicadas.

A nota aponta ainda que, por meio do programa SP Contra o Crime, o governador Geraldo Alckmin anunciou a abertura de concursos públicos para o preenchimento de 129 vagas de delegados, 1.075 de escrivães, 1.384 de investigadores e 217 de agentes policias. “O investimento na medida será de R$ 170 milhões por ano”. De novo, não houve a indicação de quais regiões serão contempladas.

Desmembrou

Considerando os últimos 10 anos, a redução do efetivo do Deinter-4 é muito maior: 46%. Entretanto, há uma explicação. Em 2004, por meio do decreto estadual 49.264, o departamento foi desmembrado com a criação do Deinter-8.

Assim, as delegacias seccionais de Presidente Prudente, Adamantina, Dracena e de Presidente Venceslau saíram do Deinter-4 e passaram para o novo departamento criado.

Éder Azevedo

O investigador Fábio Legramandi critica: “Temos uma polícia de faz de conta”

O investigador Fábio Legramandi critica: “Temos uma polícia de faz de conta”

Redução no Estado

Não foi só a região de Bauru que apresentou redução no número de policiais civis. Essa foi uma tendência em todo o Estado. A região que mais apresentou diminuição foi a de Campinas, cujo efetivo caiu em 393 homens, de 2.931 para 2.538.

Em números percentuais, todavia, a maior redução ocorreu na área do Deinter-1, região de São José dos Campos. Lá, o corpo da Polícia Civil diminuiu de 1.614 para 1.340, uma queda de 20%.


Categoria pode entrar em greve

A perda de efetivo é apenas uma das reivindicações da Polícia Civil. Nos últimos dias, as categorias articuladas da instituição têm promovido paralisações-relâmpago, denominadas Operações Blecaute, em todo o Estado.

A mais recente ocorreu na última terça-feira. Em Bauru, policiais cruzaram os braços em frente à Central de Polícia Judiciária (CPJ) por cinco horas.

Uma das principais reclamações é a questão salarial, que estaria diretamente atrelada à falta de efetivo. “A Polícia Civil de São Paulo não consegue ‘segurar’ o delegado, por exemplo. De todos os Estados da Federação, aqui é o 26º. O delegado não permanece na carreira”, aponta a presidente da Adpesp, Marilda Pinheiro.

Ela, inclusive, adianta que haverá uma assembleia geral na próxima terça-feira. “Devemos deliberar pela greve”, complementa.

Já os investigadores, que também pedem melhorias salariais, terão uma audiência no Tribunal de Justiça de São Paulo no próximo dia 22.

“Até lá, iremos continuar trabalhando normalmente”, relata o investigador Fábio Legramandi, que irá participar do encontro.