Há algo mais no ar, além dos 20 centavos...
Juvenal Marques Ferreira Filho*
No controverso Brasil
a revolta popular que se espalha pelo país não pode ser nomeada de Primavera Brasileira, como a ocorrida no
mundo árabe a partir de 2011. Afinal no Brasil, primavera e verão são períodos
para se curtir praia, festas e o nosso carnaval. Talvez num futuro próximo o
momento de manifestações e protestos que estão ocorrendo em todo país seja
conhecido como o Outono Brasileiro. Seria,
talvez, bastante apropriado, pois nessa época os frutos estão maduros e há o
início da troca da roupagem das árvores. Nessa estação de noites mais longas e
dias curtos, ocorre a maioria das colheitas. Sob essa ótica a classe dominante
estaria então colhendo o que vem plantando nos últimos anos.
O descaso dos donos do poder em
prover a melhoria das condições de vida para a população, mormente nas áreas da
Saúde, Educação e Segurança, proporcionaram uma multidão de indignados que
atendem ao chamado das redes sociais sem saber direito o porquê. Um fenômeno da
tecnologia contemporânea que atinge as massas.
Mas,
ao contrário da Primavera Árabe, cujos países afetados sofreram uma revolução
popular, em razão das altas taxas de desemprego, elevado custo de vida e falta
de melhores condições de vida para o povo, isto não foi o estopim no Brasil. Muito
embora essa conjuntura também ocorra aqui.
Neste
controverso País a motivação inicial para as manifestações tiveram como ignição
o aumento de vinte centavos de real nas passagens nos transportes. Mais
intrigante ainda é que de início a grande maioria que acorreu ao chamado das
redes sociais, se quer eram pessoas de baixa renda, ou até usuários do
transporte público.
As
manifestações não se iniciaram devido aos escândalos recentes de corrupção no
país, diga-se de passagem, em todas as esferas de governo. Tampouco ocorreram
pela crise no sistema público de saúde, onde milhares morrem por falta de um
atendimento adequado; nem ainda pela crescente onda de crimes violentos que tem
ceifado centenas de vidas diariamente nas grandes metrópoles, devido à falta de
uma política de segurança pública real, uma vez que os investimentos na polícia
com melhores salários, treinamento, material e adequação de efetivos só existem
nas propagandas mentirosas no período eleitoral dos candidatos aos governos estadual
e federal.
De
forma pueril os manifestantes empunham bandeiras sobre assuntos que se quer
conhecem as consequências práticas, como o Passe Livre. Como se fosse possível
o custo zero para as empresas, afinal, motoristas e cobradores trabalhariam sem
receber, o combustível também seria fornecido gratuitamente e os empresários
investiriam para ter prejuízo, e quem sabe, até para repartir suas riquezas com
a população. Talvez acalentem o sonho utópico de Karl Marx.
Até aí não foge do normal,
afinal desde o início dos tempos o povo sempre foi utilizado como massa de
manobra por uma classe ou grupo de pessoas dominantes na sociedade.
Preocupante é que não há na
verdade uma ideologia, ou mesmo um foco num objetivo comum para se reivindicar
e negociar. A grande maioria marcha por marchar. Partidos políticos e até
instituições que almejam supremacia de poder tentam colar ao movimento suas
idéias com cartazes empunhados por seus adeptos ou acéfalos cooptados. Mas na
verdade as manifestações em si não têm um objetivo comum traçado.
Aproveitando-se da falta de
liderança e objetivo comum, criminosos tem promovido afronta às instituições e
a lei. Vandalismo e saques tem se tornado em desfecho diário na maioria das
grandes concentrações pelo país.
A grande mídia canhestra,
acostumada a formar opiniões favoráveis àqueles que detém o poder com
investimento pesado em seus marketings, está atônita sem entender o que está
acontecendo. Algumas para manter suas audiências ensaiam até poesia para
ilustrar as manifestações pelo país, exaltando a beleza desse movimento. Os
vandalismos, saques e afrontas as instituições são um pequeno preço a se pagar,
dizem alguns.
Aliás o dogma de que “os fins,
justificam os meios” têm sido a tônica em decisões dos detentores do poder e,
inacreditavelmente, e não raramente, alguns tribunais têm flexibilizado a
Constituição Federal para justificar decisões que não contribuem em nada para a
estabilidade jurídica da nação.
Instituições desacreditas e população
insatisfeita sempre foram terreno fértil para revoluções. Muitos dos que estão
hoje no poder, quando na clandestinidade, procuraram se utilizar disso para
difundir sua ideologia. A ironia é que hoje talvez sejam vítimas de seu próprio
“remédio” utilizado no passado.
Observando-se o mapa geopolítico
da América Latina, se constata que nos últimos anos vários países tem adotado
regimes populistas com ideologia socialista, que tem desagradado os interesses
de nações imperialistas. Nesse aspecto, o imperialismo a que me refiro não é nos
termos da dominação de outrora, com a força de seus exércitos, embora ainda
hoje o promovam quando julgam ser necessária para a prevalência de interesse
maior de se país. Hoje a estratégia prioritária é a da dominação econômica. A desestabilização
de governos não alinhados com os interesses de países dominantes não acontece
somente na ficção de filmes estrangeiros.
O Brasil, apesar de todas as
sua dificuldades é a maior potência da América Latina e por certo o seu projeto
de governo interessa em muito a outras nações.
O recrusdecimento da baderna,
vandalismo, saque e afronta às instituições podem encaminhar este país para um
terreno perigoso. Portanto, essas ações não devem ser ignoradas pelo governo,
sob pena de se instaurar a desobediência civil generalizada, onde
inevitavelmente será necessário o uso da força para o restabelecimento da ordem
e da paz pública.
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* O autor é bacharel em direito pela
Faculdade Católica de Direito de Santos. Ingressou na carreira policial em 1980
como Soldado da Polícia Militar de São Paulo, onde alcançou a graduação de 2º
Sargento. Em 1989 assumiu o cargo de Investigador de Polícia, tendo exercido a
função até aprovação no concurso para Delegado de Polícia em 1994. É autor de
vários artigos relacionados à Segurança Pública publicados em páginas de
diversos sites na Internet. Contato por e-mail: juvenalmarques2010@gmail.com .